segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Como são as baladas na Austrália

Às vezes me perguntam: “Leandro, como são as baladas aí na Austrália?”. Se você pensa que são recheadas de loiros altos e fortes e muitas mulheres com roupa de piriguete se esfregando em geral e todo mundo muito, muito louco, pode deixar seu cavalinho na chuva porque você acertou em cheio! Mas, antes que você corra e compre sua passagem aérea para cá, termine de ler o texto que vou explicar melhor como são as baladas australianas e como o povo se diverte aqui.

Para começo de conversa é proibido beber em local público na Austrália, isso inclui praia, obviamente. Para quem é fã de cervejinha na areia da praia é melhor ir para alguma bem remota ou ser super discreto, assim evita problemas com a polícia. Bebida alcoólica aqui é considerada uma droga, o que não deixa de ser verdade. Só pode comprar álcool em liquor stores ou bares autorizados. No segundo caso não se pode sair do recinto com a bebida. Eu mesmo tentei comprar em um pub uma cerveja importada para dar de presente e não me permitiram sair do local. Joguei meu charme e ainda assim não permitiram, então dei uma carteirada, disse que eu era amigo íntimo da Kate Middleton, aqui na Austrália é mais famosa que a Ivete Sangalo em Salvador. Não funcionou também. As liquor stores fecham à meia-noite, logo, se acaba os bons drinks da sua festa a uma da madrugada, o jeito é beber água da torneira. Pior ainda no estado de New South Wales, lá essas lojas fecham impreterivelmente às 22hrs. Eu mesmo já fui vítima desse horário salafrário em Sydney, quase chorei às 11 da noite no meio da rua pelejando por álcool!! Aliás, sinal de riqueza por aqui é beber vodka! Só de pensar nessa bebida eu fecho os olhos, inclino minha cabeça para trás até tocar no encosto da cadeira e abro ligeiramente meus lábios. Sinto um prazer inenarrável ao relembrar o sabor dessa deliciosa bebida feita de tubérculos... JURO POR DEUS, aqui na Austrália eu como mais caviar sueco do que bebo vodka russa. Sabe quanto custa uma garrafa de Smirnoff? Por volta de 40 dólares!!! Quando digo aos meus amigos aussies que no Brasil com 20 dólares dá para entrar em coma alcoólico de tanto beber Smirnoff eles ficam chocados.

Agora que vocês perceberam que ficar bêbado não é fácil e nem barato, o próximo passo é ir para a balada. Aqui elas começam cedo, algumas 6 da tarde, outras 9 da noite. Não existe balada que começa meia-noite. Ah claro, se começa cedo, acaba cedo também. Dia desses eu fui expulso À VASSOURADAS de uma balada às 3 da manhã porque ela fechou! E eu ainda estava no mood de sassaricar. Entrar na balada também não é algo simples. Primeiro que é normal ser barrado na portaria, eu mesmo já fui algumas vezes. Eu moro em Gold Coast, uma cidade praiana, e o povo daqui anda praticamente pelado na rua: descalço, sem camisa ou de biquíni. Em qualquer lugar mesmo. Mas, não pode ir para a balada de bermuda! Tem que ir todo arrumadinho, nem mesmo de running sneakers.  Há lugares que exigem sapato social. Mas, por exemplo, em Sydney que é uma cidade civilizada (Gold Coast é terra de um bando de caipiras e jecas), eu fui a algumas baladas e tinha gente de chinelo de dedo! Havaianas! Por o povo daqui ser desencanado demais, as baladas exigem dresscode. Ah, essas sanções são apenas para homens, as mulheres vão vestidas como quiserem (e se quiserem).

Ok, você está vestido adequadamente, tem seu ID em inglês, agora só provar para o segurança que você não está bêbado! Sim, gente visualmente bêbada não entra nas baladas. Não tem conversa. E se o segurança não for com a sua cara e disser que você não entra, melhor nem argumentar. Vai para casa ou procure outra balada. Eu já entrei numa balada visualmente bêbado e sem passaporte. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas aconteceu. Outra vez eu estava na fila da mesma balada, a SinCity, e um garotinho de uns 19 anos muito bêbado veio me pedir gentilmente para cortar minha fila. Ele teve a péssima ideia de querer me abraçar, sendo que ele estava suado. Odeio gente suada. Eu acenei para o segurança, nem precisava na verdade, o garoto não conseguia parar em pé. Coisa de 10 segundos, 3 policiais apareceram e tiraram o garoto da fila no tapa. Literalmente no tapa.

A regra de não entrar bêbado na balada é extensiva a não ficar visualmente (muito) bêbado na mesma. Quem me conhece sabe que sou do tipo televisão antiga na balada, não tenho controle. Ainda mais se saio mal intencionado de casa, ou seja, querendo ficar bêbado. Obviamente já fui expulso da balada por estar bêbado. Foi no mesmo dia que entrei sem passaporte. Eu estava transtornado, expulsei todas as biscates de uma espécie de queijo, que fica no meio da pista e no alto, onde elas vão lá de saia extremamente curta rebolar e mostrar a calcinha, pendurei-me naquele negócio, fiz umas danças bem vulgares/esquisitas e olha que demorou bastante, mas um segurança me pegou pelo braço, sem me dizer uma palavra sequer e me levou até a rua. Fui embora sorrindo e mandando beijos para a balada inteira. Não resisti à expulsão e nem quis entrar de novo, fui embora mandando áudios constrangedores para os meus amigos no Brasil.

Uma das razões de bebida ser cara e de difícil acesso na Austrália é que os australianos têm o hábito de ficarem violentos ao beberem. Os brasileiros e latinos em geral quando ficam bêbados são mais amorosos, querem fazer amor, dançar e etc. Já os australianos ficam violentos, querem brigar. Eu já vi algumas brigas, não é nada legal, em geral australianos são grandes e fortes, então briga entre eles é sinônimo de muito sangue. Eu mesmo tenho mais medo de apanhar na balada do que ser devorado por um tubarão em Byron Bay. Só deixando claro, normalmente aussies são extremamente amigáveis e gente boa, o problema é quando bebem.

Outra coisa que me desaponta são os drinks ou mixers. Por lei os bares não podem vender um drink com dose dupla, logo se você pede um mixer (destilado + soft drink) é basicamente muito gelo + um shot (sem chorinho e sem chance de pedir um duplo) + muito refrigerante. Para ficar alegrinho são necessários muitos drinks. Outra coisa que eu odeio é descobrir as opções e preços. Nunca vi um cardápio de bebida nenhuma balada na Austrália. Acabo sempre pedindo o que conheço. Fora que se você pergunta o preço de uma bebida nenhum bartender sabe, ele precisa consultar o sistema. Dia desses paguei 9 dólares numa Corona porque fiquei com vergonha de dizer que achava muito cara e preferia uma bebida mais barata.

Todos os bartenders ou quaisquer pessoas que manuseiam ou vendem álcool na Austrália precisa fazer um curso de responsabilidade sobre álcool. Eu mesmo tive que fazer, é até ligeiramente interessante. O estabelecimento que vende o álcool tem responsabilidade em quase todas as merdas que o consumidor fizer enquanto estiver bêbado. Outra coisa interessante é o staff das baladas. A SinCity, por exemplo, só tem barwomen e todas usam lingerie sensual. Tem lugares que tem topless barmen, ou seja, homens musculosos sem camiseta. Fora os showzinhos, o dj chama a mulherada e algumas sobem no palco por espontânea vontade para um concurso da garota mais hot da noite. Já vi alguns tetalelês. Muitas australianas bebem e devem sentir calor nos peitos e por isso bota pra fora. A pista de dança também é algo bem quente. Praticamente não se vê beijo na boca, mas twerk é algo tão comum como respirar. A mulherada rebola na cintura (estou tentando não ser muito enfático, mas vocês sabem que não estou me referindo exatamente à cintura) de qualquer estranho. Um dia fiz um teste, estava na pista e me enganchei na bunda de uma desconhecida. Dançamos uma música inteira e ela sequer olhou para trás para saber quem estava a encochando. Claro que esse comportamento é mais comum em baladas mais safadinhas, domingo fui a uma taverna e o povo dançava como se estivesse numa prece cósmica de malucos belezas. O povo se jogando no chão, algumas meninas de microssaia praticamente dando estrelinha na pista de dança. A ideia não é ser sensual, mas apenas se divertir.Outro dia eu estava em uma balada em Brisbane, começou a tocar uma música desconhecida para mim, uma espécie de country music, mas todos os aussies conheciam e vibraram. De repente, todos os garotos da pista arriaram as calças e até o final da música dançaram apenas de cuecas! Essas loucurinhas não são tão raras por aqui.

Com tudo isso citado, eu só posso dizer que sinto saudades das baladas brasileiras. Comprar duas doses de Absolut, rachar um Red Bull com um amigo, dançar em sintonia com a pista e dar uns beijinhos. Eu ainda não achei uma festa ou balada que eu pense “Puta que pariu, que que foda!”. Tenho esperanças que isso aconteça em Melbourne. 

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Conhecendo a Grande Barreira de Corais em Cairns

Quando embarquei para vir morar na Austrália eu tinha dois grandes objetivos em relação a conhecer lugares. Réveillon em Sydney (✓done) e nadar na Grande Barreira de Corais (✓done as well). A Austrália é muito além disso, mas esses eram meus desejos e não consegui sossegar até cumprir ambos.
Consegui uma promoção incrível de passagem aérea para Cairns e convidei uma amiga para viajar comigo. Obviamente apenas depois de comprar a passagem que fui pesquisar e descobrir que estamos na temporada das águas-vivas mortais e de chuva em Cairns. Para sorte minha e da Lorena fizeram dias lindos e só vi chuva à noite, já de pijaminha para dormir. 
Cairns é uma cidade pequena de 120 mil habitantes que basicamente vive em função da Great Barrier Reef e o turismo em torna dela. No centrinho basicamente só se encontra agências de tours vendendo os mesmos pacotes pelo mesmo preço. Eu já tinha o contato de uma agência e fui direta nela. A mulher conseguiu me convencer a não fazer scuba diving e comprar apenas snorkeling, o que até agora não sei se me arrependi ou não. 
Os pacotes de um dia de passeio no reef são à partir de 99 dólares. O valor vai subindo conforme a localização do reef, os passeios inclusos e o barco. Comprei um caro do barco Tusa Dive 66 e apenas snorkeling. Eu não sou bom nadador, tenho pavor de nadar onde não alcanço o chão com os pés. O oceano, como eu bem sabia, é mais fundo que a piscina de casa. Já em alto mar depois de mais de uma hora navegando o barco parou, recebi as instruções de como fazer snorkeling (inclusive fui avisado caso eu encontrasse tubarões eu não deveria me preocupar porque ele são “like a puppies”) e eu perguntei para o instrutor “Ok e quando vamos chegar à grande barreira de corais?”. Ele disse que já estávamos lá! Eu imaginava um mar azul clarinho e que do barco eu poderia ver grãos de areia no fundo do mar. Não era o caso, a água estava escura e não era possível ver nada. Eu insisti dizendo que eu me sentia na Praia Grande e não em Cairns, ele me respondeu que o dia estava nublado e por isso só era possível ver de dentro da água. Calcei meu pé de pato, avisei que se eu começasse a me debater na água que pelo amor de Deus me resgatassem imediatamente, peguei um macarrão que flutua por precaução e me joguei! Primeiramente eu não afundei! E sim, o instrutor estava coberto de razão, a água era imaculada, totalmente transparente e eu pude me maravilhar com um novo mundo. Centenas de peixes multicoloridos e de diversos formatos nadando a centímetros de mim e uma floresta de corais logo embaixo dos meus pés de pato. Era tudo tão incrível, eu não me afogando ou afundando, os peixes nadando ao meu redor, a beleza dos corais, que quando dei por mim eu estava muito longe do barco. Nesse momento a síndrome do pânico veio dar o ar da graça, mas uma criança de 8 anos me ajudou... Tive problemas com meu equipamento, comecei a beber água e dar uma pequena afogadinha. Quem me acudiu? Jason, a criança de 8 anos que nadava 50x melhor do que eu.
Foi um passeio de um dia inteiro e duas paradas de mergulho, eu particularmente preferi o primeiro e aproveitei melhor o segundo, quando estava mais confiante (sem macarrão flutuador) e aprendi a respirar melhor pela boca. Mesmo no início do passeio, em que eu estava usando uma polêmica camisa floral e laranjona com um chapéu de pirata, minha beleza acima da média fez eu receber olhares do tipo “te quero!” dentro do barco. O mar todo para nadar e não é que vieram nadar e se esfregar na minha pessoa? Sério, às vezes preferiria ser feio (brinks! Nunca!). Eu estava lá apenas para procurar o Nemo, dar um beijo na Dory e abraçar uma tartaruga bem linda. Dory eu vi aos montes, já o famoso peixe-palhaço eu não vi exatamente o Nemo, mas um mais escurinho, não era tão laranja, igual minha camisa. Já tartaruga... Tive que me contentar em abraçar meu travesseiro mais tarde. Não vi uma sequer! 
Não vou dizer que o passeio foi perfeito, pois eu me arrependi em não ter contratado o scuba diving. Não que quem fez scuba viu muito mais coisas do que eu, queria mesmo era pela experiência de fazer scuba. Contudo, não tenho certeza se eu conseguiria mergulhar, eu tenho medo que dê merda. Falando em merda, eu estava observando três peixões quando decidi fazer carinho em um, ao me aproximar um dos peixes fez coco! Um montão, era muito líquido com pedaços sólidos da cor marrom saindo de dentro dele. Achei nojento e nadei para longe. Também fui perseguido por uma criatura de menos de 2cm, não sei especificar que tipo de criatura, só sei que fiquei apavorado. 
É altamente aconselhável não nadar nas praias de Cairns por dois grandes motivos: crocodilos de água salgada e água-viva mortal. Por isso, na cidade tem uma gigantesca piscina pública de água salgada e o calçadão beira-mar é na verdade um deck, para proteger os pedestres de possíveis ataques de crocodilos. A piscina é ótima! Super recomendo. 
Outro passeio bacana é ir para Port Douglas, uma cidade a 70km de Cairns. Aluguei um carro e a viagem até Port Douglas por si só já é um tremendo passeio. A famosa Captain Cook Highway é uma linda rodovia, de um lado a rainforest e do outro praias. Paramos em algumas, uma delas estava totalmente deserta. A coisa mais linda, água cristalina, chão coberto por pedrinhas e muita paz. A água estava perfeita, quase abortamos a ideia de ir para Port Douglas. 
Port Douglas nem é tudo isso, tivemos que nadar dentro de um cercadinho de rede que impede a entrada de água-viva e crocodilos. Almoçamos em um train sushi e pegamos estrada para explorar a rainforest. Chegamos em Mossman Gorge e sabíamos que ali havia um rio bem bonito. Achado o rio nos jogamos nele, descobrimos na prática que a correnteza era bem forte. Ela nos levou longe. Minha amiga que se dizia ótima nadadora foi salva por euzinho, que nem sei nadar direito. Ela, que não tem limites na água, queria porque queria descer de bunda de uma mini cachoeira, tipo tobogã. Observei o povo fazer isso, eram todos homens destemidos e bons nadadores. Aquela aventura não era para mim. Eis que um Pokémon (apelido carinhoso que chamo os asiáticos gordinhos, engraçados e com cara de virgem) estava se preparando para descer. Ele desceu e foi um sucesso. Embora, pensei, os Pokémons podem flutuar e são macios, logo são imunes a essas aventuras. Em seguida uma asiática amedrontada também fez a mesma loucura. Lorena, minha amiga, praticamente me obrigou a descer com ela. Só topei se fosse de mãos dadas. Depois de 5 minutos criando coragem e uma plateia se formando eu falei “Lore, segura. Nós vamos morrer!”. Aquele vídeo da Leila Lopes descreve tudo. Tudo girou, girou, nada mais vi, nada mais me lembro. Quando dei por mim eu já estava lá embaixo e VIVO! Eu nunca fiz uma loucura dessa no Brasil, por aqui na Austrália eu tive a péssima ideia de topar essa loucura? Não contente com o milagre da vida eu topei fazer de novo e desta vez sozinho. Não tive a mesma sorte, eu machuquei minha canela na descida da cachoeira, caí no fundo do rio, eu me afoguei, me debati, não consegui subir para a superfície, coloquei a cabeça para a fora, mas ainda estava morrendo e as pessoas estavam todas olhando, o Pokémon inclusive estava a 3 metros de mim e não moveu a bunda para me ajudar! Quando me agarrei numa pedra uma japonesa, outra desgramada que só viu minha desgraça, deu três tapinhas nas minhas costas “Are you ok?”; Eu estaria melhor se alguém se tivesse me ajudado... Aquele lugar já tinha dado para mim, mas a Lorena queria tirar fotos antes de ir embora. Lá fui eu de novo entrar no rio. Combinei que subiria numa pedra no meio do rio e lá faria poses sensuais/vulgares. Não sei por que tive essa péssima ideia. A pedra era pequena, julguei que seria fácil subir nela. Eu dei um vexame em público. O que me afoguei para subir naquela maldita pedra é impossível descrever. Duas fortes correntezas passavam por cada lado da pedra. Quando eu agarrei a danada não quis mais soltá-la (não sou trouxa!), porém não tinha força para subir nela. Eu vi as fotos depois, todo mundo estava me olhando com cara de pena!!! Pior quando uma senhora de quase 60 anos foi até mim e disse “pode se soltar, a correnteza não vai te levar embora, meus netinhos estão brincando logo ali, podem te segurar.” Depois de muito custo subi na maldita pedra, nessa altura todo mundo estava me olhando, preferi abortar a ideia das poses sensuais. Minha amiga depois de se mijar de tanto rir tentou subir na mesma pedra e não conseguiu! Não era fácil! (apesar dos netos da senhora subirem e descerem a todo o momento).
Era 3 e tanto da tarde, a gente ainda queria pegar um barquinho no rio Daintree que é infestado de crocodilos gigantes, os mesmos que fogem para o mar. Chegamos 5 minutos depois que o último barco partia. Eu praticamente deixei uma lágrima escorrer de tanta decepção. Continuamos a dirigir em direção a Cape Tribulation e encontramos uma nova entrada para o rio. Lá ainda tinha um barco para partir. O dono era tipo o Crocodile Dundee, um australiano bem caipirão, roupa de explorador, sotaque fortíssimo e super gente fina. Ele explicou que naquele momento possivelmente não iríamos ver crocodilo, eles não gostam das águas do verão. Desta vez a decepção foi menor. Para quem quiser ver crocodilo a rodo pelos rios da rainforest o Dundee aconselha ir entre junho e agosto. 
Outra coisa interessante a fazer é abrir o Tinder na cidade! Eu recebi alguns convites hilários, o melhor foi “dodging crocodiles”. Pensei, que porra é essa? Dicionário diz que dogde é esquivar ou coisa parecida. Perguntei o que era exatamente isso e eis a resposta: “Means trying not be eaten by crocodiles while we hunt mud crabs.” Pior que ainda quis me convencer que era seguro, que os pais e a irmãzinha de 10 anos iam juntos. E pra dizer bem a verdade só não topei porque o passeio seria no sábado e vim embora na quinta-feira! hahaha
Resumindo, quem vier para a Austrália aconselho passar 3 dias em Cairns. Não conheço uma pessoa que tenha se arrependido.

sábado, 23 de agosto de 2014

O pum ético

Durante uma aula de Ética, na época da minha faculdade, aconteceu um fato inesperado comigo.

Os alunos não gostavam muito dessa aula, achavam que era bullshit. Eu também não via muita utilidade, apesar de que hoje sei a diferença entre ética e moral de uma maneira cirúrgica por conta dessa disciplina. A professora era bem simpática, falava muito da vida dela, até hoje eu me lembro de que uma vez, em sua adolescência, em que ela foi para uma balada com uma amiga e ao voltar juntas de madrugada, a amiga foi direto para a cama dormir, enquanto ela foi tomar banho e tirar a maquiagem. Até hoje quando chego de madrugada em casa eu me recordo dessa ocasião e me pergunto se outras pessoas têm a mesma força de vontade da professora e tomam banho antes de dormir. Eu durmo sujo mesmo e morro de medo de ser julgado por isso.

Voltando ao fato inesperado. Nesse dia os alunos estavam impossíveis, não respeitando a aula e conversando em voz alta. Eu era um desses malcriados. A professora se cansou e expulsou metade da sala de aula. Todos que estavam ao meu redor foram expulsos, eu não. Possivelmente porque a professora tinha grande apreço por mim. Após a expulsão eu me vi isolado na segunda fileira, não havia ninguém perto de mim. Ainda assim deveria ter uns 25 alunos dentro da sala. Finalmente a professora tinha uma plateia silenciosa e atenta.

Nesse momento as flatulências começaram a borbulhar dentro de mim. Não dei corda, de forma não intencional desconsiderei o problema, como se nada estivesse acontecendo dentro de mim. Até hoje eu me pergunto por que eu fiz isso! Segundos após, de forma inconsciente, eu simplesmente levantei minha nádega direita e soltei um pum! Não era qualquer pum, era um peido barulhento e com respeitáveis decibéis! Tudo aconteceu tão rápido e inesperadamente, que quando dei por mim, não tinha mais o que fazer. 
Imediatamente algumas garotas começaram a gargalhar aos berros, a professora, que estava a menos de 2 metros de mim, já tinha interrompido a fala e me encarava muda e de olhos esbugalhados.

Era primeiro ano da faculdade e se eu ainda tivesse alguma dignidade (digo isso porque eu me lembro que na primeira sexta-feira do ano letivo todos os alunos foram ao bar juntos, eu bebi mais que devia, subi numa mesa, tirei a roupa e falei mais do que devia. Então meus colegas de classe já sabiam que não era o mais normal de todos), provavelmente ela teria ido para o ralo pela eternidade.

Alguns alunos do fundão não ouviram a bufa e perguntaram o que tinha acontecido para a professora ficar em silêncio enquanto algumas pessoas riam até chorar. Eu me senti compelido a dizer a verdade, afinal de contas eu estava na aula de Ética e não tinha como mentir ou culpar o coleguinha do lado. Eu respondi de forma tímida “Eu soltei gases!”. Pronto, a aula acabou definitivamente. As mesmas meninas que gargalhavam começaram a passar mal de tanto rir e foram se recompor no toalete.

Apesar dessa história constrangedora esse acontecimento foi um fato que caiu no esquecimento. Talvez seja porque eu tenho tantas histórias constrangedoras, mas isso não vem ao caso no momento.


Por fim, a professora elogiou minha atitude e disse que gases são  naturais do ser humano e apesar de muito barulhento, ele não foi fedido. Menos mal. 

domingo, 10 de agosto de 2014

Pequeno tour espiritual

A busca pela elevação espiritual talvez seja uma das metas mais almejadas pela humanidade. Há pessoas que já nascem elevadas naturalmente, isto é, a religião já vem de berço de forma hierárquica e sem questionamentos por parte dela. Se essa regra fosse aplicada a mim eu seria um católico apostólico romano. Contudo, eu sou um contestador por natureza. Meus ex-chefes bem sabem dessa minha característica.

Hoje eu não tenho nenhuma religião, apenas acredito em Deus. Não sei mensurar seu poder e influência, conquanto, prefiro apenas acreditar. Até chegar nesta conclusão eu já fiz um pequeno tour espiritual.

Lembro-me que na escola eu tive uma aula religiosa. Não estudei em colégio católico ou coisa parecida, mas tive uma aula religiosa em algum momento da minha infância. Óbvio que não colaborei e sacaneei. A professora pediu para que cada aluno desenhasse como imaginava a aparência de Deus e depois tínhamos que explicar aos colegas de classe. Foi uma chuva de Jesus Cristos. A criançada desenhou homens barbados, brancos e magros. Eu desenhei uma grande mancha roxa escura, mais parecia uma visão de alguém que usou algum alucinógeno. A professora, por sua vez, devia ser pedagoga e não soube lidar comigo.

Pouco depois fui matriculado na catequese. Meus pais são católicos, mas só vão à igreja em casamento, batizado e missa de falecimento. Como todo bom católico, né? Por um ano fui obrigado a ir à igreja todo domingo de manhã fazer aula e depois assistir a “missa dos jovens” que era uma cantoria de mais de duas horas e eu doido para chegar em casa e assistir o finalzinho da Fórmula 1. Fui coroinha diversas vezes e nunca aprendi a fazer aquele sinal da cruz mais profissa, que não é apenas em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo. É um estratagema meio ninja, o padre resmunga um monte de coisas e o pessoal fica se tocando o tronco inteiro, fazendo uma cruz complexa. Enfim, até hoje não sei fazer esse negócio. Tenho problemas com coordenação motora.

Depois que, aleluia, terminei a catequese minha mãe quis me colocar na crisma. Até hoje não sei que caralho é essa tal de crisma. Nunca topei continuar meus estudos litúrgicos. Anos depois eu vi o padre da minha igreja no SPTV. Ele foi denunciado por pedofilia, na casa dele, atrás da igreja, onde era proibido a entrada de qualquer pessoa, ele mantinha, praticamente em cárcere privado, 3 adolescentes, duas delas menores de idade, do interior do Paraná. Minha vizinha de parede era uma beata louca, quando o padre safado foi preso ela fazia bolo para levar na cadeia. Logo entrou um novo padre e a paróquia voltou ao normal, exceto por um fato, eu não frequentava mais a igreja.

Como todo ser humano desesperado, quando precisa de algum milagre, logo recorre a Deus. Eu queria muito passar no vestibular da Federal de São Paulo e fazer o ensino médio lá. Minha tia, outra beata, mas que nunca fez bolo para padre pedófilo, levou-me até a igreja para eu pedir isso a Deus. Não contente, no final da missa, ela me conduziu até o padre, esse tem a maior cara virgem do mundo, poderia muito bem ser confundido com um otaku ou jogador de LOL, e pediu para ele abençoar meus planos escolares. Resumo da ópera, não estudei o suficiente e não passei no vestibular, que era super disputado. No ano seguinte eu tentei novamente e passei. Mas, como tenho orgulho, não quis estudar lá, esnobei mesmo.

Passado um tempo eu fui buscar novos sentidos religiosos. Por algum motivo imaginei que eu poderia me tornar budista. Eu e uma amiga, a Chuchuzona (cata o apelido da minha amiga!), fomos ao Templo Zulai. Eu olhava a monja careca e ficava me pergunta “Pra que isso?”. Na época eu tinha cabelo verde limão florescente que brilhava no escuro, por isso a observação sobre a careca dela. Não gostei muito não, não conseguia me concentrar, aquela coisa de homens de um lado e mulheres do outro não me agradava, a meditação não fluía e no final não podia comer carne. Fui com a Chuchuzona mais algumas vezes, mas pulei fora. Budismo não era minha praia, sou hiperativo demais.

Próxima descoberta foi o espiritismo sob a ótica do Allan Kardec. Sempre tive medo de espíritos, então não fazia sentido ir atrás justamente deles. Quem me levou foi outra tia minha. Eu achei mesmo o prédio meio mal assombrado, até hoje quando passo na porta à noite eu olho para o sótão a procura de alguma luz suspeita. Aquela coisa de tomar passe também é meio estranho, todo mundo de branco na sala, com os braços estendidos e olhos fechados. Quer dizer, exceto eu, óbvio que fico bem alerta querendo saber o que vai acontecer na hora do passe. Para mim é a hora mais apropriada para o espírito aparecer. Nunca vi um. Outro dia fui à Federação Espírita tomar passe, minha amiga disse que seria bom, mas antes do passe rolou uma palestra e não é que uma das mulheres que falou estava incorporada? Não acho que foi teatro, ela parecia a menina pastora, mas falava com coerência. Como sempre tive medo dessas coisas não daria certo eu frequentar centros espiritas, né? Quando eu era menor eu me lembro de ter assistido na Sônia Abraão uma sensitiva que explicou que os espíritos ficam alojados nos batentes das portas, por isso, nunca fiquem parados embaixo de qualquer porta. Ela também ensinou que alguns espíritos querem roubar nossa energia, para evitar isso basta tampar o umbigo com fita isolante ou com o dedo mesmo. Quando eu sinto uma energia estranha a primeira que faço é colocar o dedão em cima do umbigo. Aprendizados da vida!

Eu sei que esoterismo não é exatamente uma religião, mas vou contar uma experiência. Eu já fui a uma feira esotérica que aconteceu há muitos anos em algum shopping de São Paulo, lá escolhi passar com uma esotérica que lia o futuro por meio dos búzios. Falou tanta asneira, não botei fé nela. Mas, disse algo importante, guarde essa informação para mais adiante; eu perguntei se algum dia eu seria rico e ela disse NÃO. Anos mais tarde eu passei com um amigo que lia tarot, ele disse coisas bem legais para mim e eu novamente perguntei se eu seria rico algum dia. Outro NÃO. Em breve retomo o assunto da riqueza.

Eu comecei a fazer uma faculdade, durei apenas algumas semanas e desisti. Eu fui idiota, sempre quis ser jornalista, mas por algum motivo aos 18 anos eu tive a brilhante ideia de prestar HOTelaria. Merda feita e logo desfeita, ainda naquele ano havia a opção de vestibular no segundo semestre. A única faculdade de jornalismo com inscrições abertas para o segundo semestre e que eu consideraria estudar era o Mackenzie. Mas, eu também gostava de Economia, por isso me inscrevi para o IBMEC. Como era fato que eu passaria nos dois vestibulares, eu preferi anteceder minha escolha antes mesmo do vestibular. Uma amiga me sugeriu apelar às cartas. Por algum motivo eu achei uma ideia interessante. Ela comentou que uma amiga dela estava lendo cartas e cobraria pouquinho de mim. A amiga dela em questão tinha 16 anos, havia comprado as cartas do tarot e um livro explicativo há menos de um mês e me cobraria apenas 15 reais. Durante a consulta no quarto dela eu todo aflito perguntei qual faculdade deveria cursar, ela então tirou as cartas e disse “Faça Jornalismo, você terá muito sucesso e será muito feliz! Se você fizer Economia será infeliz!”. Também perguntei se um dia serei rico com o Jornalismo e a resposta foi NÃO.

No dia seguinte eu tinha o vestibular do IBMEC. Uma cartomante adolescente de 16 anos me convenceu a desistir de Economia. Dormi mais tarde e perdi o vestibular. Passei no Mackenzie e no final do primeiro ano de Jornalismo eu tinha certeza absoluta que fiz a escolha errada, Jornalismo não era minha praia!

Outra religião que sempre me bateu curiosidade era a umbanda. Eu tinha um amigo que frequentava terreiro, eu comentei da minha vontade, na verdade não era só vontade, eu tinha uma necessidade. Eu achava que haviam feito uma macumba contra mim. Meu amigo foi super solícito e me convidou para conhecer o terreiro dele e iria me apresentar ao Pai de Santo que poderia descobrir se algum trabalho contra mim foi feito.

Meu amigo pediu que eu o encontrasse na estação Santana do Metrô. Lá fui eu, quando, de repente, para minha surpresa, me aparece ele e uma mulher ambos de batas brancas e um chapéu característico. Porra, meu amigo nunca disse que ele era pai de santo! E o choque? Todo mundo olhando! Eles me levaram até o carro e ao entrar na parte traseira eu quase morri. Havia gaiolas com galinhas pretas, pombas e outros bichos. Todos vivos. Nem te conto para que eram essas aves... Eles ainda pararam em um supermercado para comprar algumas bebidas, frutas e outras coisas. Vejam que agradável, domingo de manhã, eu no Pão de Açúcar com um pai e uma mãe de santo, vestidos a caráter, fazendo compras para a oferenda do dia. E para ajudar um monte de aves nos esperando no estacionamento. Se não morri de vergonha esse dia é porque realmente não é possível morrer desse jeito.

Ao chegar ao terreiro mais um choque. O terreiro era na verdade uma pequena mansão no bairro da Cantareira, região nobre da ZN. Cheguei ao lugar e lá morava uma família, eles me mostraram de fato o terreiro, que era o quintal da casa. Um monte de estátuas horripilantes de madeira, velas coloridas, chão de terra. Agora sim uma expectativa minha sendo concretizada. Na casa vivia o pai de santo mor, fomos apresentados e não rolou uma empatia recíproca. Ele me levou até o consultório que ele lia búzios e me pediu dinheiro para o santo. Eu não sabia que tinha que pagar, não estava com dinheiro, apenas cartão. Pedi emprestado para meu amigo e o pai de santo disse que o dinheiro precisava ser meu. Peguei tudo que tinha na carteira, pouco mais de cinquenta centavos e perguntei se rolava aquele troquinho. Rolou!!! Ele e o santo dele aceitaram. Minha primeira pergunta: “Eu fui macumbado?”.

A resposta foi SIM! Magia negra das bem ruins e poderosas. Quase tive uma síncope. Pior que eu sabia muito bem quem fez. Como já estava lá e estava paga a consulta (65 centavos, mas pago!), eu resolvi perguntar sobre a vida. O pai de santo disse que minha mãe morreria em breve por uma doença fatal e que meu pai deveria largar a segunda família que ele mantinha em sigilo. Minha mãe está vivíssima e meu pai vive em função da única família que ele tem. Perdi a confiança no pai de santo. E claro, fiz a pergunta de sempre “Eu vou ficar rico?”, a resposta também não variou. NÃO! Ele também me disse que poderia reverter a macumba... Fiquei interessadíssimo! Cobraria um preço amigo e eu precisava providenciar algumas oferendas. Ele me passou a lista, era um zoológico inteiro, só faltou colocar um tigre de bengala. Eu decidi não sacrificar animaizinhos e que um dia a macumba perderia a força sozinha.

Eu queria ir embora daquele lugar, mas logo iria começar o ritual deles. Repensei e decidi ver aquilo. O pai de santo mor proibiu a minha entrada no terreiro, disse que a macumba foi forte demais e que eu estava muito carregado. Vocês têm noção que fui expulso do terreiro de macumba? Eu não sabia onde estava, não tinha Google Maps no meu celular, que na época nem existia iPhone. Eu precisava esperar o ritual acabar e meu amigo me levar ao metrô. Fiquei na cozinha com mais duas crianças, netos do mor. Eles também não podiam acompanhar o ritual, mas sabiam o que acontecia lá. Disseram-me que o meu amigo incorporava sempre um orixá X e que se batia, gritava e mudava de voz. Era um pouco assustador e que apareciam “coisas” no terreiro. Óbvio que não acreditei até começar a ouvir urros e berros, batida de tambor e mais um monte de sons assustadores. Eu queria era chorar, bateu um desespero, queria sair correndo para a rua e as duas crianças nem aí. Não me importei com a calma delas e decidi segurar nas mãos delas e dizer que tudo acabaria bem. Foram os 15 minutos mais longos da minha vida. Logo todos voltaram, meu amigo todo imundo e com mão suja de sangue, provavelmente da galinha preta ou da pomba. Fui levado para o metrô? NÃO! Fui convidado para almoçar com eles, rapidamente fizeram uma macarronada e comemos todos... Eu inclusive repeti o prato e olha que o molho era à bolonhesa!

Depois dessa experiência eu coloquei o pé no freio nessas descobertas religiosas. Já me chamaram para rituais xamânicos e Santo Daime. Eu nunca fui, uma por medo e outra porque se no terreiro de macumba rolou tudo aquilo, imagina em um ritual de doutrina espiritualista amazônica? Além disso, até onde sei esse povo toma uns chás alucinógenos, tenho medo de tomar chá de lírio e nunca mais voltar. Para não dizer que não faço nada, de vez em quando tenho vontade de comer hóstia e vou à missa só pra isso. A última vez o padre falou tanta merda no sermão, contou umas barbaridades que qualquer pessoa que estudou história minimamente choraria de tristeza. Minha mãe me impediu de levantar a mão e questionar o padre no meio da missa. 

Uma única certeza meu tour espiritual me forneceu. A certeza que não serei rico um dia. Pelo menos assim eu economizo 2 reais no joguinho da Mega Sena quando acumulada.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Conte-me um segredo seu?

Tudo caminhava na santa paz da normalidade em minha timeline do Facebook. Fotos de viagens incríveis, frases de autoajuda, filhotes de gatinhos, vídeos engraçados e embate político entre petistas e tucanos. Até que sou surpreendido pela seguinte frase escrita em uma imagem jpeg com fundo laranja "Cago no trabalho só para passar o tempo e não ter que olhar para a cara dos colegas por 15 minutos que seja".

Essa confissão quebrou a verossimilhança do propósito do Facebook. E nem preciso dizer que fiquei chocado. Sinceridade demais choca as pessoas. Passados mais uns dias e novamente outra frase de impacto passeia pela minha timeline "Queria dar para todo mundo sem ninguém ficar me julgando. Enquanto isso, vou dando e sendo julgada mesmo". Desta vez o fundo da imagem era rosa. 

Nessa altura do campeonato eu já desconfiava que essas frases não eram do meu amigo do Face, provavelmente de algum Tumblr novo, toda semana um Tumblr sensacional é lançado. Ontem eu descobri a verdadeira origem dessas frases. A fonte dessas confissões encharcadas de absoluta e perturbadora sinceridade é de um novo aplicativo chamado Secret.

O Secret funciona assim: você faz um cadastro, podendo se conectar pelo Facebook, como qualquer outro aplicativo social. A ideia é que você poste segredos anonimamente para que amigos, amigos de amigos e pessoas próximas a você possam ler, curtir e comentar, tudo também de forma anônima. Desta maneira, você pode ler diversos segredos, interagir com eles e ninguém nunca saberá dos autores envolvidos.
Obviamente que as chances de isso dar merda são gigantescas, dar a oportunidade das pessoas falarem o que bem entenderem sem que haja nenhum tipo retaliação, é um parque de diversão para gente maluca. Nos EUA esse aplicativo é bastante usado como ferramenta de cyberbullying, hoje mesmo eu me deparei com uma confissão e dezenas de comentários anônimos a respeito de um blogueiro que eu conheço. Comentários pesadíssimos, ofensivos, cruéis e alguns nojentos.

Contudo, isso foi uma exceção. Como pude conferir, o brasileiro está usando menos como objeto de bullying e mais como fim de putaria. Oitenta por cento (esse é um dado que acabei de inventar, assim como 90% das estatísticas que lemos por aí, que também é outro dado da minha cabeça) das confissões têm o assunto sexo envolvido. Inclusive li um Secret que dizia: “Os EUA transformaram este app num grande estimulador de bullying. O Brasil transformou numa grande putaria. BRASIL MELHOR EM TUDO!”. A mais pura verdade.



Eu consigo ver o outro lado do Secret, não apenas como um espaço para difamação ou putaria, mas como um espaço para se abrir. Muitos e muitos secrets são verdadeiros desabafos, eu li sobre traumas, medos, arrependimentos, vontades e tantas outras coisas que nós levamos ao analista e amigos íntimos. E como é possível interagir, sempre há vários comentários de encorajamento ou de situar a pessoa à realidade.

Estou adorando ler os segredos dos outros, quem nunca se perguntou qual história tem por de trás daquela pessoa desconhecida que está do seu lado no metrô, esperando o semáforo abrir ou na fila do supermercado? Não sei se sou o único anormal em ter esses pensamentos, acredito que todo mundo tem uma boa história a contar, melhor ainda se for um precioso segredo, não?

Fica aqui minha sugestão para baixar o Secret, disponível na App Store e Android.

E como os segredos são anônimos e públicos, vou compartilhar alguns que li hoje. Apenas hoje serei fofoqueiro. Mas antes, conte-me um segredo seu para mim?

“Eu te amo, vc me ama, a gente diz que é só amizade por medo de tentar algo sério e estragar isso. Somos idiotas.”
“Já soltei um peido devastador na balada e chamei todas de porcas”
“Queria gostar de putaria e fetiches mas só gosto de amorzinho”
“Penso muito no futuro e esqueço de viver o agora. Todo dia me arrependo disso.”
 “Tô pegando um cara e uma mina e não sei com qual quero ficar... Como lidar?”
“Colega de trabalho cagava um bonde e fedia a agência inteira. Tive que pedir pro financeiro comprar Bom Ar”
“Gosto de imitar um dinossauro quando estou sozinho em casa.”
 “Morro de vontade de transar com 3 ou 4 homens, ao mesmo tempo, mas me falta coragem”
“Meter chapado de maconha é a melhor coisa do mundo”
“Sou tão gorda que vi um Secret falando de BKT e fiquei com vontade de um Burger King Trio”

“Quando não estou pensando em comida estou pensando em sexo”

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Existe gente de cabelo azul



Você sabe qual a sensação de andar com uma melancia pendurada no pescoço? Eu sei! Não que eu tenha experimentado passear por aí com o segundo maior fruto que eu conheço, mas andei com meu cabelo azul e é tudo a mesma coisa, ao menos no quesito chamar a atenção em público.

Antes de falar dessa sensação eu vou fazer um prefácio da minha história com cabelos coloridos. Perguntam-me milhões de vezes por que eu tinjo meu cabelo com cores incomuns, não tenho uma resposta, sei que não é por questão de estilo, pertencimento de algum grupo ou porque vi em algum lugar e achei bacana, eu apenas gosto desde sempre, just it.

Ainda muito novo eu já tinha essa vontade e só fui concretizá-la pela primeira vez aos 16 anos. Assistindo ao filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, meu filme predileto ever,  descobri que era possível ter cabelos da cor que eu bem entendesse. Clementine, a protagonista do filme, tinha cabelos coloridos, ela aparece com os fios laranjas, vermelhos, azuis e verdes, agindo sempre com naturalidade. Não usava roupas excêntricas, não se jogava em inferninhos, não tinha tatuagens mil, era apenas uma pessoa sensível e com um olhar mais poético. O cabelo colorido era apenas um detalhe e também uma maneira de se expressar de acordo com seu momento de vida da personagem.

Voltando ao meu prefácio pessoal, ao ver o cabelo da Clem eu percebi que era possível para mim também e decidi pintar o meu. Não fiz no dia seguinte, como eu gostaria, porque na época eu estudava em uma escola extremamente rígida e conservadora que proibia os alunos de terem brinco, piercing, usar roupas “inadequadas” e até mesmo alguns tênis eram censurados. Não preciso nem dizer que eu era o terror daquela escola quebrando regras quase que diariamente... Esperei até o último dia de aula e fui direto para a casa da minha amiga Bruna Ficklscherer, que na época era uma menina emo, ouvia rocks depressivos, usava maquiagem pesada, andava com ursinhos de pelúcia e tinha a franja cor de rosa. Ela sabia dos paranauês de descolorir e pintar. Comprei pó descolorante na farmácia (mal sabia eu que esses são para descolorir pelos e não cabelo) e uma tinta nacional com um único tom de azul. Meu cabelo ficou lindo e nunca estive tão realizado com a minha aparência. Choquei minha família e me fizeram prometer nunca mais pintar... Tão logo a tinta azul saiu, já emendei com um laranja, depois roxo, laranja de novo, roxo de novo e verde limão fluorescente que brilhava no escuro, este último era uma tinta importada e realmente muito boa. Recentemente a vontade de tingir o cabelo voltou, em dezembro pintei meu cabelo de branco, este ano de laranja e voltei para o azul claro porque o primeiro azul foi tão rápido que sentia que algo não tinha sido vivido até o fim, foi um azul interrompido.

Sabendo um pouquinho da minha história colorida capilar eu posso voltar ao ponto inicial. Como é andar na rua com cabelo azul. Então, é terrível! Como vocês puderam notar acima, em nenhum momento eu digo que pintei meu cabelo para me mostrar ou ser visto. Eu sou tímido, talvez não demonstre, mas sou tímido e envergonhado. Sempre que mudo de cor de cabelo e preciso encarar a sociedade é um sacrilégio gigantesco para mim. Na maioria das vezes recruto alguém para me acompanhar e andar de mãos dadas comigo, normalmente aperto a mão o máximo de tão tenso que fico.

Pintei meu cabelo sábado à noite, o serviço terminou após uma da manhã. Peguei um táxi e fui direto para uma balada bem descolada, ainda assim minha cabeça virou um imã de olhares. No dia seguinte uma pessoa X comentou no meu Instagram “Eu te vi ontem na balada, só dava você e seu cabelo na pista!”. Ter um cabelo azul, verde, roxo ou qualquer cor diferenciada que seja, não ter permite anonimato ou discrição. Ainda de madrugada eu decidi ir fazer um lanchinho na Bella Paulista. Eram 4 da madrugada, o lugar borbulhava de pessoas, havia fila de espera por mesa. Entrei e fui direto ao toalete. Enquanto atravessei o salão da padaria eu ouvi o zumzumzum das conversas parar por um segundo e retornar em seguida. Meu cabelo não é merecedor de um minuto de silêncio, mas foi capaz de silenciar dezenas de pessoas eufóricas por 1 segundo. Desfaleci de vergonha.

É de dia e na rua que as reações das pessoas são mais impressionantes. Esperando o semáforo abrir uma menininha ao meu lado cutucou a mãe e gritou apontando para mim “Mãe, mãe, existe gente de cabelo azul!”. Como nossa distância era de menos de um metro quem desfaleceu de vergonha desta vez foi a mãe. Andei por metade da Paulista e o imã em cima da minha cabeça não cansava de roubar olhares e para meu desespero eu não estava usando óculos escuros.

Notei uma grande evolução da humanidade entre o cabelo verde e o atual azul. Quando eu tinha cabelo verde limão fluorescente que brilhava no escuro era normal ouvir desconhecidos me chamando de qualquer coisa verde, de papagaio e até impropérios. Já estou azul há 5 dias e até agora nenhuma reação falada. Talvez imaginem que fiz pelo clima de Copa do Mundo e é socialmente aceitável algumas extravagâncias verde, amarelo e azul neste momento. Hoje mesmo vi um carro cujas rodas foram pintadas de verde e amarelo.

O pior de tudo não são os olhares, pois são realmente ossos do ofício e não repreendo ninguém, o pior são os conhecidos que sempre fazem questão de falar “Nossa, você está parecendo isso. Você está parecendo aquilo!”. Sinceramente não estou parecendo porra nenhuma de Smurf, de Blue Man Group, com o Pokémon tal ou o Bigode do Cotonetes. Qual a necessidade de me comparar com algo? Como normalmente são amigos ou conhecidos que falam isso eu apenas sorrio, mas um sorriso nada amigável, para a pessoa se tocar que não está sendo gentil comigo. Então regra número 1 de convivência com alguém de cabelo colorido, não se esforce a compará-los com alguma coisa, não será engraçado, será patético. Por ventura se a pessoa realmente estiver parecendo alguém por conta do cabelo, não se reprima, pode falar, mas vou logo adiantando, dificilmente alguém de cabelo verde estará igual a um papagaio, ok?!

E como eu me sinto de cabelo azul? Lindo, feliz, fascinante, radiante, esplêndido, gorgeous! De vez em quando eu até esqueço a cor do meu cabelo, quando passo na frente do espelho e vejo aquele azulão acima das minhas sobrancelhas eu sorrio para mim mesmo feliz com o resultado. Não existe nada mais gratificante que estar bem consigo mesmo.


E ainda me sinto responsável por combater o tédio, o vazio, o medo e a falta de imaginação das pessoas. Pode parecer responsabilidade demais para um mísero cabelo, mas falo de atitude e cor na vida das pessoas. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

elevação espiritual

Antes de ir trabalhar eu li uma crônica da Martha Medeiros que relatava a raridade que é parar e olhar nos olhos das pessoas, ser gentil com estranhos e dar uma pausa nessa loucura que é a vida na cidade grande.
Terminada a crônica prometi a mim mesmo estar mais atento e não me contaminar com a naturalidade do modo automático que a vida nos propicia. Em outras palavras, ser mais empático com os conhecidos e desconhecidos.

Há poucos minutos eu estava andando pela calçada quando um senhor do outro lado da avenida me grita pedindo para esperar. Imediatamente percebi que era minha grande chance de colocar em prática minhas decisões matutinas. Esperei calmamente o semáforo abrir e ele caminhar até mim "seria uma informação de onde fica tal rua ou seria um pedido de ajuda financeira?".

O senhor chegou até mim, fez questão de me cumprimentar com a mão (havia prometido olhar nos olhos, ser gentil e ouvir, essa coisa de toque físico não estava no script, mas vamos lá...) e falou com certa dificuldade, parecia doente e logo imaginei que era dinheiro que ele precisava. Não entendi todas as palavras do seu pedido, ele estava um pouco confuso, fui pescando "eu + doente + barriga + dor + médico + pé descalço + barriga". Não consegui montar uma frase que fazia sentido usando essas palavras e nessa ordem, então pedi que ele repetisse. Prestei mais atenção e com espanto perguntei "O senhor quer que eu coloque meus pés descalços em sua barriga porque seu médico lhe receitou isso?". Sim, era esse o pedido dele!


Eu procuro incessantemente elevação espiritual, mas isso foi demais para mim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A entrega a um novo amor

Tudo começou com um Starbucks.
Desde o início eu disse que não queria, que estava muito bem sem, que me sentia pleno o suficiente para seguir minha vida sozinho, sem ele.
As visitas ao Starbucks começaram a ficar mais frequentes que eu desejava. Frappuccino com base creme ou chocolate quente desta vez? A troca de olhares mais intensa.  Acho que Frappuccino! Quando dei por mim, o desejo já estava despertado.
Eu repetia para mim mesmo as vantagens de não me entregar. Todos os argumentos eram perfeitamente lógicos e compreensíveis.
Em ocasiões especiais eu me permitia o desfrute. Afinal de contas, eram apenas em ocasiões especiais, não era frequente. De repente comecei a criar ocasiões que nada tinham de especiais, eram desculpas esfarrapadas dadas pelo meu subconsciente.
Há poucas semanas eu chutei o balde, quero mais que se dane tudo isso. Eu vou correr para o abraço e me deliciar com meu novo amor. Uma paixão antiga, quase uma paixão platônica dos tempos que eu ainda era criança. Seu cheiro sempre foi meu predileto, a ponto de fechar os olhos quando estava por perto. Não sei se é um caminho que tem volta, mas estou envolvido pelo café!
Aos 6 anos, na casa da minha avó paterna, eu decidi que não gostava de café. Motivo? Sei lá, apenas decidi. Nunca mais tomei, apesar de ser meu cheiro predileto desde meus primórdios. Já adolescente decidi tomar uma xícara porque insistiram muito. Passei mal. Anos depois em uma reunião na B!Ferraz, uma agência de promoção de São Paulo, eu decidi aceitar uma xícara de café para não fazer desfeita e porque queria parecer confiável, eu precisava fechar negócio com eles. Desta vez foi menos traumático e decidi que daqui em diante apenas tomaria café em xícaras estilosas e sendo em agências cools. Para meu desespero, virou rotina ir para agências cools e conhecer xícaras estilosas... Mas, nunca gostei de café, sempre aturei com muito pesar.

E cá estou, sem visitar agências e volta e outra tomando café, e o pior, tomando café por prazer, por iniciativa própria e sem o objetivo de fechar um negócio. Eu sei que café amarela os dentes, eu sei que também pode te deixar dependente psicologicamente e ainda assim nutro essa vontade. Ontem mesmo eu pensei “Tenho café em casa, coador e garrafa térmica, por que não procurar no Google como fazer café?”.  A coerência logo voltou e abortei a ideia. Café agora só de vez em quando e pode até ser em copo plástico, como foi agora. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A fórmula mágica do amor

Relacionamentos é sempre uma pauta de conteúdo, experiências e opiniões infinitas. Deve ser o assunto com mais frases prontas que fazem algum sentido. "Quem muito escolhe, acaba sendo escolhido", "Quem eu gosto não gosta de mim, quem gosta de mim eu não gosto", "Nunca transe no primeiro encontro, tem que se valorizar para ser valorizado", "Não procure, seja encontrado". Uma infinidade de fórmulas prontas para serem colocadas em prática e conquistar um desejado relacionamento.

Há pouco mais de um ano eu estava disposto a tentar todas essas, na verdade eu já usei muitas das famosas fórmulas em algum momento da minha vida. Eu queria namorar, por isso em todas as minhas oportunidades eu deixava minhas intenções bem claras, mesmo batendo de frente com aquela fórmula bem popular e a mais cuzona de todas "Finja não estar interessado, seja difícil". Vendia meu peixe, mostrando que eu era digno para ostentar o título de namorado, fazia atividades interessantes para ter assuntos surpreendentes, até aprendi a fazer arroz de forno, um prato que requer muito mais dedicação e talento do que preparar o manjado “pasta ao molho X”, que nada mais é macarrão com molho pronto.
O mais engraçado que quando eu demonstrava meus objetivos não conseguia evoluir as minhas paqueras. Chegou um momento que pensei, quer saber, vou trepar com todo mundo e foda-se, se possível no primeiro encontro. Repentinamente eu me vi em um relacionamento, não tinha título, não queria títulos ainda, como foi tudo sem planejamento, não sabia como chamar aquilo. Dois meses depois de passar dormir juntos pelo menos 3x por semana, almoçar todo domingo com meus sogros, eu pensei "estou namorando!", oficializei no dia dos namorados e the end parte 1 da história.

Hoje estou solteiro faz poucos meses e não quero envolvimento sentimental. Primeiro porque terminei um namoro recentemente e não acredito em amor após término recente e outra porque assim como Hazel Grace, personagem célebre do John Green, sinto-me uma bomba relógio prestes a explodir. Envolvimento sentimental seria apenas uma burrice. Eu estou solteiro, mas graças a Deus está chovendo muito na minha horta, o que me possibilita escolher os melhores frutos para a minha dieta (beijinho no ombro para vocês!!). Invariavelmente quando conheço alguém falo meu discurso "não busco relacionamento, quero apenas colecionar bons momentos", um eufemismo que cai muito bem nesta ocasião. Deixo claro, que a ideia não é prolongar, telefonas no dia seguinte não são aconselháveis e ainda assim tenho uma pequena lista de nomes interessados em algo mais concreto e algumas declarações ouvidas que eu daria tudo para ter ouvido ano passado quando procurava por um amor.


Qual é o problema da humanidade? Digo que quero amar e que sei fazer arroz de forno e não tem uma alma querendo dormir de conchinha comigo e me dar apelidos carinhosos e ridículos. Digo que vou explodir, que não quero nada e, ainda assim, preciso ser meio babaca distribuindo gelo ou não responder Whatsapp.
Realmente relacionamentos são complexos. Fórmulas prontas não existem.
4, 3, 2,1. BUM!

domingo, 27 de abril de 2014

O voo da borboletinha



- Senhorita, com licença, posso te tocar?
- Humm... Melhor não, se você me tocar, todo mundo também vai querer.
- E tirar foto? 
- Claro! 
- Você rebola para mim? 
- Tá!

E lá foi a borboletinha voar, quer dizer, rebolar para mim.